o vento bate no meu peito
e diz: “eu sou a jornada”
entre tantas coisas para ser
escolheu o longo caminho
quilômetros, bairros, cidades,
países, continentes, anos-luz.
Buracos negros supermassivos:
a prova de que o vento
alcançou o espaço sideral
“Tão longe…”, penso.
Agora, está a milímetros
A pele o recebe instantaneamente
Eriça os pelos do braço com o toque
gelado. O cabelo pinga água
e se movimenta na mesma dança
É possível sentir o mesmo vento
mais de uma vez?
Nunca somos os mesmos
O primeiro choro
O último suspiro
Muitos passos que indicam
o que houve no meio disso
Pulmões, cérebro, corpo
O ar ganha forma e força
e diz: “eu ainda estou aqui”.
Destrói o que vê pela frente
Prevê o início da queda d’água
Refresca os corpos suados
está lá. aqui. aí.
Não importa com quem está
Tanto faz
A gente nunca foi tão
importante assim.
[reflita]
Significar a própria existência
é sentir a sua distância
na tentativa de encontrá-la
Então o vento bate e faz o convite:
“eu sou a jornada”.
eu queria ser flor.
eu queria que minha semente fosse plantada no solo mais fértil. Pra que minhas raízes fossem fortes e nunca me fizessem esquecer de onde eu vim.
eu queria absorver todos os sais e substâncias que a terra iria me dar, para me transformar naquilo que ainda não sou. crescer devagar e cada vez mais alto, até atingir aquilo que nasci para ser.
eu queria ser flor pra ser admirada a cada estação que eu florescesse. E que cada florescer trouxesse consigo alguma coisa nova.
uma pétala nova, um caule novo, uma envergadura nova. Constante mudança de uma mesma seiva.
eu queria ser flor pra nascer e morrer diversas vezes, sem dor. Fazer da luz o meu alimento e do sol o meu alento.
Brotar da terra em toda e qualquer circunstância, fixando olhares e despertando novos cheiros.
eu queria ser flor. Fazer da minha existência a simplicidade e a beleza.
não importa se me arrancassem pelo talo. Porque eu ainda seria flor. E da polinização que eu permitiria, outras como eu surgiriam.
mas elas ainda não seriam o que sou. Nenhuma mais poderia ser a flor que eu fui. A flor que cresci, vivi e morri. Para, depois, nascer de novo.
eu queria ser flor.
Natália Pinheiro é jornalista formada pela Cásper Líbero. Já pensou em ser bióloga e psicóloga. No meio do caminho, percebeu que escrever era o que realmente a movimentava. Terminou seu curso de graduação escrevendo uma monografia. A poesia sempre esteve por perto, no papel ou no bloco de notas do celular. Encontrou nas palavras o seu jeito de (tentar) criar o que tanto admira: arte.